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SEMA
Publicado: Quarta, 20 de Abril de 2011, 20h26 | Última atualização em Sexta, 12 de Julho de 2019, 18h20 | Acessos: 1027 | Categoria: Notícias
Foto: Josi Pettengill/Secom-MTgado_sustentabilidade
Rebanho Neloro em  Água Boa-MT

Deixar para trás o estigma de atividade primitiva foi um desafio que chegou aos pastos mato-grossenses junto com a necessidade de aliar altas metas de produção à sustentabilidade ambiental. Em 12 anos, os pecuaristas do Estado conseguiram aumentar em 39% a produtividade por hectare, segundo dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA).

A conquista pode representar o início de uma revolução nos currais.

Enquanto em 1996 criava-se 0.72 unidade animal por hectare (UA), o índice saltou para 1.0 UA em 2008. Em pouco mais de uma década, a mesma pastagem passou a abrigar uma quantidade superior de bovinos. Isso permitiu que o rebanho estadual aumentasse em 66% no período, sem acarretar a abertura proporcional de novas áreas. O espaço físico ocupado por pastos no Estado cresceu apenas 18% entre os anos, de acordo com Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), que está finalizando um estudo com projeções de área preservada até 2010.

O rebanho bovino ganhou 10,29 milhões de cabeças, alcançando a marca de 25,86 milhões em 2008. Já as pastagens, que ocupavam 21,74 milhões de hectares cresceram para 25,78 milhões. O ganho em produtividade, que evita o desmatamento, é uma tendência já consolidada na agricultura e agora se firma também como caminho irreversível para a sobrevivência e expansão da pecuária de produção em larga escala.

“Ainda que o avanço da taxa de lotação dos pastos pareça pequeno, esse ganho em produtividade representa uma grande evolução. É fundamental levar em consideração que a base de análise é um rebanho de volume altíssimo, proporcionalmente o impacto recai também sobre uma área extensa”, aponta o analista de conjuntura do Imea, Daniel Latorraca.

Mais do que uma iniciativa individual, o setor da agropecuária enxergou na modernização dos pastos a solução para um problema coletivo do segmento, atender a demanda do mercado mundial sem intensificar a devastação da floresta amazônica. O melhoramento genético do rebanho se mostrou uma ferramenta eficaz no processo de adoção de tecnologia.

“A inseminação artificial permite a escolha dos melhores touros para a reprodução nas matrizes. Animais de qualidade precisam de pouca alimentação para engorda em menor espaço de tempo. A média de ganho de peso é crescente na pecuária. Isso é fruto da genética”, explica o zootecnista Maurício Delai. Ele frisa que com a evolução dos genes, os animais chegam a ganhar diariamente até 300 gramas a mais do que há 10 anos.

A intensificação na adoção de técnicas de confinamento e semi-confinamento, o investimento em pastagens melhoradas, a alternância com a agricultura, o uso de suplementos e de sal mineral também fazem parte da ofensiva pela produtividade nos pastos. O acompanhamento sanitário dos animais, com o controle de doenças como a febre aftosa, tuberculose e brucelose, por meio da vacinação fiscalizada pelo Instituto de Defesa Agropecuária (Indea) também tem influência determinante no processo.

“Os custos para implementar essas mudanças não são baixos. Porém, essa é única a saída que eu vejo. É preciso recorrer a ciência e produzir mais carne e mais grãos em menor área”, aponta o paulista Abel Leopoldino. Com um rebanho de 20 mil matrizes na Fazenda Califórnia, em Água Boa (a 630 quilômetros de Cuiabá), o pecuarista afirma que desde a década de 90 investe na evolução do rebanho pela genética.

“Antes a gente levava cerca de quatro anos para ter um boi de 19 arrobas pronto para o abate, hoje conseguimos ter o mesmo resultado com 36 meses de pasto, ou até 26 meses no confinamento. Você consegue produzir um boi mais pesado, com um custo um pouco mais alto de forma que compensa no ganho de escala pela produtividade”, diz.

O esforço desencadeado em Mato Grosso para aumentar a produtividade no pasto é também uma tendência nacional. Um estudo recente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) aponta que a evolução na produção evitou o desmatamento em uma área de 420 milhões de hectares na região da Amazônia nos últimos 20 anos e que as novas áreas abertas só incrementaram a produção em 21%. A instituição federal comprovou que o crescimento do rebanho no país é devido ao aumento da produtividade em 79% desde 1950.


MUDANÇA DE POSTURA - O médico veterinário do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea), João de Freitas, aponta que nos últimos anos se tornou evidente o movimento de conscientização dos pecuaristas sobre a necessidade de investir na qualidade do rebanho e a consequente profissionalização da atividade, que refletem na produtividade. O órgão que é responsável pelo controle de sanidade animal encontrava resistência dos fazendeiros no passado para garantir a vacinação do rebanho estadual no passado.

“Os pecuaristas achavam que a vacinação contra a febre aftosa era uma exigência sem sentido por parte do governo brasileiro. Hoje eles entendem que é uma necessidade para que seu produto seja aceito nos mercados nacional e internacional. Com amadorismo não há como expandir a produção”, pontua o médico veterinário.

Freitas frisa que após um intenso trabalho do Indea, a febre aftosa foi erradicada em Mato Grosso em 2001. “Agora nossa meta é erradicar também a tuberculose e a brucelose em bovinos e bubalinos por meio da vacinação. Tudo isso garante não só a saúde do gado, mas também a otimização dos resultados do melhoramento genético de bovinos, que engordam mais rápido e usam menos área de pastagem”, conclui.


MOVIMENTAÇÃO AÉREA - O aeroporto de Água Boa se tornou no último fim de semana uma demonstração da euforia dos pecuaristas brasileiros para investir na evolução do rebanho e assim se enquadrar nas normas ambientais ao evitar o desmate. Com 74 aviões privados no pátio, o espaço se tornou pequeno para receber todos os investidores que chegavam ao Vale do Araguaia para comprar bovinos selecionados no maior leilão do mundo, que segundo o Livro dos Recordes (Guiness Book) é realizado no município mato-grossense.

Mais de 40 mil animais foram vendidos em sete horas de evento, totalizando um faturamento superior a R$30 milhões. “O alvo desse público formado por grandes pecuaristas é o animal de qualidade genética superior a média. A escolha dos bovinos para o leilão é feita com base no padrão racial, na capacidade de ganho de peso, avaliação visual e uma série de quesitos que faz o animal pronto para o abate em menos tempo e com menos alimentação”, aponta o idealizador do Mega Leilão, Maurício Tonhá.

O pecuarista reafirma o consenso entre a classe que investir em produtividade foi a única maneira encontrada para conciliar o crescimento da produção com as regras da legislação ambiental, na qual a área de reserva legal nas propriedades rurais deve ser de 80% na Amazônia.

“A demanda por carne cresce a cada ano. Para acompanhar o crescimento da demanda, precisamos produzir mais. Mesmo que fosse possível abrir novas áreas, ainda sim seria mais viável economicamente investir em produtividade com tecnologia. Por isso afirmo que todo animal de qualidade colocado no mercado será vendido”, frisa Tonhá.

O raciocínio do pecuarista faz sentido. Entre 1997 a 2008, o abate de bovinos em Mato Grosso crescer 280%, saltando de 1,09 milhões de cabeças de gado para 4,12 milhões, de acordo com a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat). As exportações impressionam ainda mais. No período de 1996 a 2008 o incremento foi de 964%, subindo de 21,4 milhões de toneladas para 227,73 milhões de toneladas.

Mato Grosso já possui o maior rebanho do país, com mais de 28 milhões de cabeças de gado, e tende a crescer ainda mais se as expectativas do Ministério da Agricultura se consolidarem. O coordenador de planejamento estratégico do órgão, José Gasques, prevê o crescimento de 35% nas exportações de carne brasileira até 2.020, percentual do qual grande fatia deve ficar com pecuaristas mato-grossenses. 

 
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